Os focos do Aedes aegypti podem estar nos lugares mais inesperados. O mosquito, os ovos e as larvas podem até circular pelas estradas do país de carona em caminhões.
Seis caminhões abandonados. Um carrega vários pneus na caçamba. O outro está cheio de ripas de madeira e lona rasgada. Pois é, esses lugares, que muitas vezes passam despercebidos pelos motoristas, podem ser o ambiente ideal para o mosquito Aedes aegypti.
“A gente olha mas como vai saber se tem ou se não tem”, diz um homem.
E os biólogos alertam que ovos e as larvas do mosquito circulam no caminhão mesmo quando ele anda e a água vai embora. “O ovo fica. E, assim que o caminhão passar em uma nova poça de água ou passar em uma área de muita chuva, a água pode se acumular. Haverá a possibilidade de que os mosquitos novamente se proliferem ali”, afirma o professor de Biologia da UFMG Ricardo Motta.
E não para por aí não: o mosquito da dengue já adulto também pode entrar na boleia do caminhão. E se os vidros estiverem fechados, ele pode seguir carona tranquilamente, sem fazer nenhum esforço. De acordo com os biólogos, em condições favoráveis, como atrás dos bancos, um mosquito pode seguir viagem por vários dias.
“Nós temos ali uma enorme possibilidade de que mosquitos, inclusive de uma região onde haja uma maior infestação com a dengue, possam ser transportados passivamente dentro da boleia do caminhão para outras cidades, onde a infestação seja menor”, explica o biólogo.
O seu Roberto sabe desse risco e fica atento. “No caminhão, assim, tem certos pontos que passam despercebidos, mas que realmente, há possibilidade”, diz o caminhoneiro Roberto Gonçalves.
A situação pode ficar ainda mais complicada em locais como uma central de abastecimento. Com tanta gente, se um mosquito picar um caminhoneiro contaminado e outro logo em seguida, o vírus vai se espalhando.
“A única maneira que nós temos mesmo é combater como está sendo feito em toda parte do país. Conscientizar o motorista, explicar para ele que ele também tem que fazer parte dessa guerra”, explica o inspetor de saúde pública, Charles Cardoso.
Então, o jeito é contar com a ajuda desse pessoal que roda o Brasil inteiro. “O caminhoneiro que está em todos os pontos, tudo quanto é fábrica, tudo quanto é indústria, tudo quanto é na área rural. Ele realmente pode ajudar”, diz José Natan Emídio Neto, presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros.
Os responsáveis pelo pátio cheio de caminhões disseram que fazem vistorias semanais para combater o mosquito. A prefeitura de Contagem, perto de Belo Horizonte, disse que também ajuda na fiscalização.