Falta de trens impede desenvolvimento econômico do estado
Um velho problema de infraestrutura e logística causa preocupação em dois dos principais vetores econômicos da Bahia: a mineração e o agronegócio. Limitações históricas, como a escassez da malha ferroviária para o escoamento da produção contribuem, negativamente, para dificultar a ampliação do mercado de exportação e impedir um desenvolvimento ainda mais pujante.
Para um estado de grande extensão como a Bahia (território equivalente ao da França), o transporte ferroviário de cargas é imprescindível, visto a sua capacidade de transportar grandes quantidades de produtos a granel, com eficiência energética e segurança. “Um vagão de seis mil toneladas equivale a 173 carretas que deixam de circular em nossas rodovias. Isso tem um impacto ambiental muito importante, pois é menos CO2 (gás carbônico) lançado na atmosfera. Isso tem um impacto também na infraestrutura das estradas, com menos carretas rodando”, compara o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), Humberto Miranda.
Há 25 anos, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA/VLI) tem deixado diversos trechos em situação de precariedade. O abandono dos trilhos prejudica a logística comercial e gera desinvestimentos na malha. Ao longo dos anos, foram desativados os trechos Senhor do Bonfim-Juazeiro/Petrolina, Esplanada-Propriá, Mapele-Calçada, e parcialmente no Porto de Aratu, o que corresponde a perda de mais de 620 km.
Cadê os trens?
“Os trens sumiram, não transportam nem cargas e nem passageiros. Houve sucateamento da malha. São dez portos/terminais baianos sem acesso ferroviário. Enquanto isso, a FCA/VLI pleiteia a renovação do contrato de concessão por mais 30 anos”, aponta o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antônio Carlos Tramm.
“O que se espera é que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não conceda a renovação até que a concessionária apresente as devidas explicações sobre o que foi feito por mais de duas décadas e o que será realizado em médio e longo prazo no futuro”, acrescenta o presidente da CBPM.
Ações territorializadas
Ex-secretário estadual de Planejamento e atualmente na coordenação de projetos do SENAI CIMATEC, Walter Pinheiro abordou o tema durante o II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, promovido pela CBPM neste mês de junho. Na ocasião, ele destacou que são necessários planejamento e investimento com foco na melhoria da vida das pessoas, e não apenas na dos negócios.
“O conceito que estamos trabalhando é territorializar essas ações, mas temos carência de estrutura de logística entre o centro de produção e porto, e entre o centro de produção e a indústria, por isso esse debate é tão importante”, ressaltou Pinheiro, que também falou a respeito do potencial das fontes renováveis de energia, principalmente na região do Semiárido baiano.
Portos impactados
Sem uma malha ferroviária adequada, as cargas provenientes da produção mineral e agropecuária não conseguem chegar até os portos baianos, sendo destinadas para terminais de outros estados. O diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, defende que o corredor Minas-Bahia da FCA seja excluído dessa renovação, licitado ou autorizado. “Nós estudamos profundamente a renovação antecipada da concessão. Quando fomos olhar a proposta, constatamos que não existe a obrigatoriedade de investimentos. São apenas intenções, justificou Villa.
A FCA alega que investiu, nos últimos anos, R$ 150 milhões nos trechos baianos da ferrovia, além de ter gerado 500 empregos diretos e indiretos. Caso consiga a renovação da concessão, a empresa estima que mais de R$ 3,5 bilhões serão aportados entre a malha que cobre o estado e o Sudeste do país.
Estudo traçará diagnóstico
Com o objetivo de traçar um diagnóstico da situação atual da malha ferroviária na Bahia, a CBPM realizará um estudo em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). Por meio das projeções das demandas atuais e futuras serão traçados cenários prospectivos indicando quais as melhorias e ampliações necessárias para que se viabilizem sistemas multimodais voltados ao transporte das diversas cargas com origem ou destino no estado.
“O foco deste trabalho estará no transporte de produtos em ferrovias, bem como nos seus potenciais de escoamento nos principais portos da Bahia. Os estudos a serem executados tem foco na projeção de volume de cargas movimentadas no horizonte de curto prazo (cenário-base), médio prazo (2030) e longo prazo (2035)”, detalha o coordenador do projeto na FDC, Bernardo Figueiredo.
Para identificar gargalos de infraestrutura, avaliar impactos de projetos de implantação de novas infraestruturas e formular planos de infraestrutura, a Fundação Dom Cabral utilizará um software de simulação aplicado à uma rede de infraestrutura cadastrada, georreferenciada e qualificada, que contempla 195 mil km de rodovias, 20 mil km de ferrovias, 17 mil km de hidrovias e 30 portos, além de uma rede de 5 mil km de dutos.
FIOL representa esperança
Tanto no setor da mineração quanto da agricultura, existe uma expectativa também sobre a finalização das obras e funcionamento da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que vai ligar Ilhéus, no Sul da Bahia, ao Centro-Oeste para trazer a produção ao Porto Sul.
A ferrovia está dividida em três trechos, com mais de 1.500 quilômetros. Segundo a ANTT, o primeiro trecho Ilhéus/BA – Caetité/BA conta com mais de 75% de execução física da obra, que desde abril de 2021 é conduzida pela BAMIN. “A FIOL vai tornar a Bahia o terceiro maior produtor nacional de minério de ferro, com potencial para duplicar essa produção”, projeta o CEO da companhia, Eduardo Ledsham.
A BAMIN utilizará cerca de um terço da capacidade da FIOL. Os outros dois terços serão destinados ao transporte de outros minérios, grãos do agronegócio e fertilizantes, além de outros produtos.