Brasília - O volume de retiradas no primeiro bimestre deste ano, de R$ 18,670 bilhões, na caderneta de poupança é o maior para o período dos últimos 21 anos.
O Banco Central começou a fazer o levantamento atual em janeiro de 1995. Até então, a maior quantidade de saques dessa aplicação, já descontados os depósitos, foi vista em 2015, de R$ 11,794 bilhões.
Em 2016, essa marca foi ultrapassada nos dois meses em questão. Em fevereiro, a retirada foi de R$ 6,264 bilhões no ano passado e de R$ 6,639 bilhões agora.
No caso de janeiro, a diferença foi muito mais gritante, já que, apenas no primeiro mês deste ano, o valor total de saques (R$ 12,031 bilhões) foi superior ao primeiro bimestre de 2015.
No ano passado, as retiradas líquidas da caderneta em janeiro foram de R$ 5,529 bilhões.
Fevereiro
Após a retirada líquida recorde de R$ 12,031 bilhões da poupança em janeiro, a quantidade de recursos que os investidores sacaram da caderneta em fevereiro, já descontadas as aplicações, ficou em R$ 6,639 bilhões.
De qualquer forma, é o pior resultado para o mês da série histórica do Banco Central iniciada em 1995.
Para meses de fevereiro, a pior marca até agora havia sido registrada no ano passado, quando as retiradas ficaram R$ 6,264 bilhões maiores do que os investimentos.
O resultado do mês passado só não foi pior porque no último dia ingressaram R$ 2,507 bilhões na poupança. No primeiro bimestre de 2016, as retiradas da caderneta somaram R$ 18,670 bilhões.
Até então, a conta estava negativa em R$ 9,146 bilhões. Isso ocorre com o sazonal aumento dos depósitos na caderneta no último dia útil por causa de aplicações automáticas da conta corrente que alguns investidores já deixam programadas para ocorrer.
A acentuada deterioração da caderneta se dá depois de uma recuperação em dezembro do ano passado, com a injeção de recursos do pagamento do 13 salário.
O saldo positivo de R$ 4,789 bilhões no último mês de 2015 interrompeu uma série de 11 meses de resultados negativos.
Ao longo de todo o ano passado, portanto, apenas em dezembro as captações líquidas superaram as retiradas.
Além da piora do cenário econômico e do aumento do desemprego, o início de todos os anos é marcado pela concentração de pagamento de impostos e de gastos extras com matrícula e material escolar.
Acabou a fase de sobra de recursos para aplicar na poupança. Ao contrário, necessidades financeiras fazem brasileiros retirarem dinheiro da aplicação.
De acordo com o BC, o total de aplicações no mês passado foi de R$ 152,451 bilhões e o de saques, de R$ 159,090 bilhões.
O saldo desse investimento está em R$ 646,085 bilhões, já considerando os rendimentos de R$ 4,082 bilhões de fevereiro.
Mais uma vez, o patrimônio da caderneta recuou, como aconteceu pela primeira vez em um ano em 2015.
Outro ponto que pesa contra a poupança é que há no mercado investimentos mais rentáveis, atrelados ao dólar e aos juros, por exemplo, e que fizeram a caderneta perder o brilho.
A remuneração da poupança é formada por uma taxa fixa de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR) - esse cálculo vale para quando a taxa básica de juros (Selic) está acima de 8,5% ao ano e atualmente está em 14,25% ao ano.
Por causa dessa sangria na poupança vista desde o início do ano passado, o setor imobiliário passou a reclamar de falta de recursos para financiamentos de casas e apartamentos.
Para minimizar esse quadro, o BC decidiu liberar os bancos em 2015 para usarem R$ 22,5 bilhões dos depósitos da poupança que são obrigados a manter na instituição para desembolsos nas operações de financiamento habitacional e rural.
Mais recentemente, esses recursos foram liberados para serem usados também em investimento em infraestrutura.