A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) lamenta o ato de destruição e vandalismo ocorrido nesta quinta-feira (2) na Fazenda Iragashi, no Distrito de Rosário, em Correntina. A entidade entende como legítima manifestações pacificas que não infrijam a legislação penal vigente com atos de invasão e depredação de patrimônio, sejam eles público ou privado.
A entidade acredita que muito dos manifestantes podem estar sendo incentivados, de forma inconsequente, por lideranças que se recusam a dialogar ou se inteirar dos fatos científicos e das leis que autorizam os mais diversos usos das águas, incluindo para a irrigação, por meio da autorização do órgão ambiental, mais conhecida como outorga.
O rio Arrojado, causa da manifestação e da violência na Fazenda em Correntina, está com a vazão normal para este período do ano e nunca teve riscos de seca. Antes de serem levados ao ato de destruição, os representantes do movimento deveriam necessário avaliar de forma objetiva qual o verdadeiro uso das águas para a Irrigação.
Para a Abapa, o ato de vandalismo descorre do desconhecimento dos fatores climáticos e dos processos de produção agrícola no oeste da Bahia. Primeiro, em novembro, tem início as primeiras chuvas, retomando gradualmente o nível das águas; depois de longa estiagem, o que deixa naturalmente reduzida a vazão dos rios. Em segundo, nos meses de agosto, setembro e outubro, as fazendas estão em período de vazio sanitário, ou seja, sem produção agrícola. Somente com as primeiras chuvas que os agricultores começam o plantio das culturas de sequeiro, ou seja, sem uso de água.
Do total de 2,2 milhões de área plantada, 160 mil são irrigados. Ou seja, somente 8% é irrigado. De toda forma, aqueles que utilizam sistemas de irrigação na produção passam por rigorosas concessões do uso da água pelos órgãos ambientais e por renovação da licença e fiscalização periódicas. Ao entender a importância da água e dos custos envolvidos na irrigação, os agricultores trabalham com equipes técnicas capacitadas que minimizam as perdas, utilizando a água de forma racional e eficiente.
Pesquisas recentes da Embrapa Monitoramento de Satélite e por meio de informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR), os agricultores vem respeitando a legislação e preservando 26% da área nativa de todo o território nacional. Na Bahia, segundo dados do Cadastro Florestal de Imóveis Rurais (Cefir), 9,1 milhões de hectares inseridos no bioma cerrado na região, 4,5 milhões estão conservados e 3,1 milhões são produtivos. Ou seja, existem mais áreas preservadas do que em produção. Da área nativa preservada estão principalmente a vegetação das margens de rio e nascentes. Mais do que respeitar a legislação, os agricultores estão mobilizados e estruturados para utilizar, quando necessário a água de forma racional, e proteger os recursos hídricos.
De forma científica, os agricultores também estão empenhados em entender como funciona o Aquífero Urucuaia. Eles estão financiando uma pesquisa, realizada em parceria entre os pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, e da Universidade Federal de Nebraska, dos Estados Unidos, com o objetivo de quantificar a disponibilidade da água e sua importância para os múltiplos usos nas bacias do Rio Grande e Corrente, no oeste da Bahia, o que garante a segurança hídrica para manter a irrigação e, consequentemente, a produção sustentável de alimentos.
Os agricultores baianos estão cientes das suas obrigações com o meio ambiente e vem inserindo a variável da sustentabilidade em toda as fases da produção. E, por isto, adota modelos que associam os desafios de produção, cumprimento legal e boas práticas agropecuárias, com manejo adequado do solo e da água e gestão de resíduos. A Abapa e demais entidades da agricultura estão abertas ao diálogo na tentativa de desconstruir preconceitos que de forma inconsequente e irresponsável vilanizam os agricultores e os colocam de forma errada em contraponto ao meio ambiente.