Os quadros mais complexos de agravamento da Covid-19 costumam apresentar lesão renal aguda, mesmo em pacientes sem histórico prévio de complicações renais. Nestes casos, é fundamental a adoção de sessões de hemodiálise, procedimento que realiza a filtragem de impurezas e outras substâncias indesejáveis no sangue. De acordo com o médico José Moura Neto, presidente as Sociedade Brasileira de Nefrologia – regional Bahia, cerca de 17% dos pacientes hospitalizados pela doença pandêmica necessitam desse tipo de cuidado. Geralmente esses pacientes já estão sob suporte ventilatório e apresentam outras complicações associadas.
Moura Neto explica que não há uma motivação específica para uma evolução do tipo. Há dúvidas se as lesões renais são consequências das “alterações hemodinâmicas e ao quadro inflamatório [a tempestade de citocinas] ou se seria decorrente de um efeito direto de citotoxidade do vírus”.
“A diálise está indicada quando há a falência dos rins e, com isso, o acúmulo de toxinas ou de líquido no organismo, agravando ainda mais o quadro respiratório do paciente”, especifica. Acrescenta ainda que a situação costuma ocorrer durante a fase da resposta inflamatória da doença.
“Esses pacientes precisam de acompanhamento em unidade de terapia intensiva [UTI], com suporte ventilatório, medicamentos específicos para cada caso, além de atendimento criterioso por parte de toda a equipe, incluindo médicos especialistas, fisioterapeutas, nutricionistas e enfermeiros”, completa.
Outro aspecto que também não possui desfecho específico, conforme Moura Neto, é a gama de sequelas que podem ou não acompanhar o paciente após recuperação da Covid-19. O especialista indica que elas são possíveis em função da gravidade do quadro, mas dependem de diversos fatores.
“O tipo de lesão e suas consequências vão depender de fatores como a duração do quadro, gravidade, a existência de lesões renais prévias, comorbidades associadas e idade do paciente. Como são muitos fatores envolvidos, podemos ter desfechos variados, desde a recuperação completa da função renal até a evolução para lesões renais crônicas, extensas e irreversíveis”, avalia.
Diante do cenário, o nefrologista ressalta a importância da atenção aos sinais e sintomas apresentados desde o início da manifestação da doença. “Falta de ar, febre persistente, acometimento pulmonar extenso costumam ser sinais de gravidade. Nesses casos, o quanto antes o paciente for atendido e receber o suporte necessário, mais chance de evitar desfechos indesejados”, diz.