LEM
Foi nos anos 1980 que o preço baixo das terras e a promessa de expansão da produção agrícola atraíram muitos brasileiros para o Oeste da Bahia. João Antônio Franciosi foi um deles.
Trocou o Rio Grande do Sul pela paisagem ensolarada de Mimoso do Oeste em 1986, quando o povoado era só um aglomerado de casas com um posto de gasolina a caminho de Barreiras.
A pouca estrutura e o solo difícil foram desafios. Franciosi conta que quase metade dos que chegaram com ele quebraram sem conseguir colher, mas ele prosperou. Em três décadas, a família dele foi de 300 hectares para os mais de 70 mil hectares cultivados hoje.
Quem se adaptou, como ele, viu a agricultura transformar a região, que hoje concentra algumas das cidades que integram a lista dos 50 municípios agrícolas mais ricos do país.
Luís Eduardo Magalhães, Barreiras, Correntina e São Desidério formam um corredor de forte expansão do agronegócio no Matopiba — como é chamada a região formada por Tocantins e partes de Maranhão, Piauí e Bahia, a mais nova fronteira agrícola do país —, com destaque sobretudo para a produção de algodão e soja.
Com a alta do dólar e dos preços das commodities com a recuperação de grandes economias após o baque da Covid, sobretudo da China, essa região da Bahia passa pela crise praticamente imune aos seus efeitos. Uma amostra do que acontece em regiões do país impactadas pelo agronegócio.
A bonança das exportações agrícolas ajudou a economia brasileira este ano, mas com efeito reduzido no mercado de trabalho das grandes cidades. O PIB do país no primeiro trimestre avançou 1,2% puxado pelo bom desempenho do setor, que cresceu 5,7%. O maior impacto ficou no interior.
Fila na concessionária à espera de Hilux
As cidades baianas visitadas pelo GLOBO, que eram marcadas pela pobreza há pouco tempo, somam R$ 6,9 bilhões em produção agrícola. E o valor deve aumentar. Segundo o Ministério da Agricultura, a produção de grãos no Oeste da Bahia cresceu 29,7% nos últimos quatro anos. A pasta prevê alta de mais 30% até 2030.
— São indicadores que garantem o abastecimento, geração de emprego e ótimas perspectivas para o agronegócio do estado — diz a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
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O crescimento de Luís Eduardo Magalhães (ou LEM, como é chamada pelos locais) dá uma dimensão de como as fazendas viraram um polo de atração. A cidade batizada com o nome do ex-presidente da Câmara morto em 1998 foi emancipada em 2000 com 16 mil habitantes. Hoje, se aproxima de cem mil.
Ali, são poucas as placas de “aluga-se” no comércio do centro da cidade, ainda que bares e restaurantes tenham sofrido com as restrições da pandemia. A pobreza existe, embora menos aparente nas ruas. Há 19,7 mil beneficiários do Bolsa Família em LEM e 34,6 mil em Barreiras, por exemplo, cerca de 22% da população nos dois casos, bem próximo da média da Bahia.
Mais visível é o dinheiro circulando entre a nova elite do Oeste da Bahia, que investe na mecanização das fazendas. O tráfego de aviões particulares é intenso. Uma concessionária de veículos da região tem cerca de 200 clientes na fila de espera por uma picape Hilux, importada da Argentina, que custa entre R$ 278 mil e R$ 360 mil.
As entregas passaram dos habituais 30 dias para algo entre quatro e seis meses por causa dos impactos da pandemia na produção das montadoras, mas a demanda só aumentou.