A passagem por Salvador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o lançamento informal da candidatura do senador Jaques Wagner ao governo da Bahia em 2022. Ainda que os petistas tenham negado qualquer interesse eleitoral na passagem de Lula por aqui, ficou claro que as alianças para figurar nas urnas eram algo prioritário nas conversas. Em especial com o esforço para manter composições regionais ainda que nacionalmente os partidos estejam em lados opostos - leia-se PP e PSD.
Publicamente, apenas o senador Otto Alencar, do PSD, figurou ao lado de Lula. Aliado do PT na Bahia desde 2010, Otto também exaltou o ex-presidente quando foi instado a falar. O tom mostra que, no plano federal, ele estará entre aqueles que defendem a coalizão entre PT e PSD, mesmo que os socialdemocratas – via Gilberto Kassab – invistam na virtual candidatura de Rodrigo Pacheco (que sequer deixou o DEM). A única hecatombe possível para essa relação seria uma reivindicação da cadeira de senador, pela qual Otto deverá ser candidato à reeleição, algo improvável ainda que o atual governador Rui Costa queira requisitar a vaga.
Mais discreto, o vice-governador João Leão esteve com Lula, posou para fotos publicadas nas redes sociais, porém não participou de nenhum dos atos políticos (eleitorais, ainda que neguem) em que o ex-presidente esteve. Em meio à pandemia, até consideraria evitar aglomeração como uma justificativa plausível para a ausência de Leão dos eventos. Porém, se essa foi a razão para a discrição, não veio a público. De um jeito ou de outro, o flerte e a aproximação com o cacique progressista na Bahia se mantiveram, ainda que no plano nacional seja o PP o partido mais próximo ao presidente Jair Bolsonaro, principal adversário de Lula na corrida para 2022.
Em resumo: se depender do ex-presidente, o tripé formado por PT, PSD e PP será mantido na Bahia, com direito a endosso e articulações próprias. Isso serve para consolidar o nome de Wagner, que pelo recall eleitoral e pela musculatura política já estaria colocado como uma figura forte para retornar ao Palácio de Ondina. Outros fatores, como o desgaste natural do ciclo de 16 anos do PT na Bahia e a existência de uma candidatura competitiva como a do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, são calos a serem considerados na construção da campanha de 2022.
Enquanto o entorno petista celebrava a vinda de Lula - com direito a hipocrisia de criticar a realização de eventos ao tempo em que aglomerava sem cumprir protocolos -, o lado adversário percorria o Extremo Sul e colocava dedos em duas feridas para a era do PT na Bahia: educação e segurança pública. Para conter a onda vermelha em 2022, ACM Neto terá que expor com ainda mais frequência esses problemas. E torcer para que Lula não embale Wagner como no passado.