Semana passada, todos apostavam que o presidente Jair Bolsonaro se filiaria ao PL. Na semana anterior, o PP era o destino. Agora, não se sabe exatamente qual será a legenda pela qual Bolsonaro tentará a reeleição. Uma coisa é certa: ele tem convicção que o brasileiro vota em pessoas e não em partidos. E esse talvez seja um dos entraves para o desenvolvimento pleno da democracia por aqui. Sem instituições fortes, há a figura do salvador da pátria, já representada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo próprio Bolsonaro e, mais recentemente, pelo controverso Sérgio Moro.
É claro que os partidos políticos no Brasil não se dão ao respeito. A imensa maioria é um balcão de negócios que finge ter alguma ideologia. No caso dos dois últimos prováveis destinos do presidente, esse movimento os fortaleceu na conjuntura nacional e acabou expondo ainda mais a fragilidade do governo federal. Isso vale tanto para o PP, que ficou pouco satisfeito com o drible de Valdemar Costa Neto, quanto para o PL, que quase emplacou Bolsonaro e foi obrigado a recuar após trocas de amabilidades pelo zap. As duas siglas são essenciais no Congresso e a governabilidade quase nula depende de ambas. Nem mesmo aquela hipócrita fala do "se gritar pega centrão" foi capaz de resumir tão bem a promíscua relação de poder exercida pelos caciques das legendas e Bolsonaro.
Independente do desfecho desse noivado/ casamento, a fatura vai ser paga pelo eleitor brasileiro, que seguirá comprando gato por lebre, ancorado nesse desejo primitivo de ser salvo. Bolsonaro segue forte eleitoralmente, mas extremamente fragilizado politicamente. O resultado disso é a governalidade enfraquecida e os figurões do Congresso mandando e desmandando na nação. É o vácuo de poder que os deixa fortalecidos, enquanto nós assistimos em um camarote ligeiramente privilegiado a degradação da República. Com direito a anuência do Supremo Tribunal Federal e tudo, para parafrasear Romero Jucá e o sincericídio da ascensão de Michel Temer ao poder.
Até o momento em que Bolsonaro anunciar em que partido figurará nas urnas em 2022, muita coisa pode acontecer. Mesmo depois disso, não haverá pacificação completa, já que as siglas possuem donos e o presidente também quer o espaço para chamar de seu. A grande pergunta a ser respondida é como a legenda não escolhida vai se comportar depois do martelo batido. Sem uma base consistente, o governo, que já modernizou a política do toma lá da cá, seguirá dependendo de tudo que refutou ao menos no discurso. E o brasileiro que se vire para lidar com esse buraco que nos enfiamos.