O mercado aguarda um novo reajuste nos preços do diesel e da gasolina pela Petrobras. Não há data definida para que o anúncio seja feito pela estatal, mas há a expectativa para um comunicado sobre o assunto até amanhã (sexta-feira). Contudo para o presidente executivo da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, o aumento já “está atrasado”.
A entidade calcula que a correção nos valores pode chegar a 17% na gasolina e 25% para o óleo diesel. Os índices, segundo Araújo, referem-se à defasagem de preços dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado internacional. “A Abicom está esperando esse aumento há muito tempo. Temos quase 60 dias sem que a Petrobras faça intervenção nos preços”, disse Sérgio.
“E também há frequentes e repetidos posicionamentos da Petrobras mostrando a necessidade de estar com preços alinhados ao mercado internacional para mitigar risco de desabastecimento. Expectativa é de que esse anúncio saia a qualquer momento”, complementou Sérgio.
Com base nos percentuais assinalados pela Abicom, o aumento para a gasolina seria de R$0,65. No caso do diesel, a estimativa é de um aumento em torno de R$1. As projeções foram feitas a pedido da reportagem pelo consultor da Valêncio Consultoria, que presta serviço a postos de combustíveis no Brasil, Murilo Barco.
Um distribuidor de combustíveis, consultado pela reportagem, também aposta em uma alta no valor da gasolina acima de 10%. “A gente cravar o que vai ser feito é difícil. Mas acredito que não deva vir algo nessa proporção. Olhando historicamente, os últimos reajustes sempre deixam o preço abaixo do que foi importado”, pondera.
Estudos feitos pela Valêncio Consultoria apontam para uma defasagem ainda maior entre os preços do mercado interno e internacional. Na gasolina o índice seria de 19% e no diesel de 21,5%. “O presidente da Petrobras deu uma declaração de que o presidente Jair Bolsonaro entendeu que a culpa sobre os preços não é da empresa, mas um problema de mercado. Então isso pode ser também um sinal de aumento”, diz Murilo Barco.
O argumento do consultor diz respeito às críticas feitas por Bolsonaro à estatal após o último reajuste, feito em 11 de março, que aumentou em 24,9% o preço do diesel, 18,8% no preço da gasolina e 16,1% no preço do gás de cozinha. As críticas, inclusive, culminaram com a troca no comando da Petrobras. José Mauro Coelho foi empossado, em 14 de abril, para a presidência da empresa em substituição ao general Joaquim Silva e Luna, que foi demitido por Bolsonaro.
O novo presidente já defendeu a atual política de preços da empresa em conformidade com o mercado internacional. A metodologia é criticada por alguns economistas e pela população. “A prática de preços de mercado é condição necessária para criação de um ambiente de negócios competitivos, para a atração de investimentos, para ampliação da infraestrutura do país e para a garantia do abastecimento", argumentou José Mauro durante a cerimônia de posse.
Impactos
Para Murilo Barco, apesar da defasagem, um reajuste do diesel, por exemplo, dentro dos parâmetros previstos pela Abicom não é positivo para o setor. “O aumento do preço do diesel provoca um aumento de custos em cadeia. Boa parte do transporte é feita em caminhão e boa parte dos transportadores são autônomos e trabalham para pagar a conta do combustível”, diz. O consultor lembra, ainda, que no caso da gasolina, um possível encarecimento pode manter o preço do etanol nas alturas.
Há uma expectativa de queda com o início da safra da cana de açúcar, após aumentos consecutivos desde março. “Nesse momento o preço vai continuar caindo. Porém se subir a gasolina o preço do etanol vai subir um pouquinho. Até porque a safra deste ano não é de boas expectativas para o etanol, não vai ser tão alcooleira”, projeta Barco.
Balanço
Além da expectativa por um reajuste de preços, o mercado também aguarda para esta quinta-feira o anúncio do balanço financeiro do primeiro trimestre de 2022 da Petrobras, que deve vir com lucro acima de R$ 40 bilhões. Com receita inflada pelos altos preços dos combustíveis no Brasil, que tiveram um robusto reajuste em março, a estatal deve apresentar bons resultados financeiros.