De desconhecido a governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) tem inúmeros desafios após sentar na cadeira de chefe do Executivo. Do ponto de vista da gestão pública, mostrar que há diferença entre continuidade e continuísmo deve ser uma das primeiras barreiras a ser transporta pelo futuro governador. A outra - e bem mais simbólica - é representar a efetiva renovação que foi pregada pelo adversário, ACM Neto (União), mas também pelos próprios petistas, ainda que em um grupo restrito e extremamente pragmático.
Jerônimo tem dado sinais de que pode não incorrer no erro do antecessor - e guru -, Rui Costa. Durante os quase oito anos do atual governador, o perfil centralizador impediu a ascensão de novas lideranças políticas. Basta comparar o número de ex-secretários de Jaques Wagner e de Rui que tiveram êxito nas urnas. Wagner permitiu o surgimento de figuras como o próprio Rui e têm vindo dele os primeiros sinais de que o PT baiano precisaria se renovar.
A eleição de Éden Valadares pode ser considerada um dos marcos nesse caminho. O atual presidente do PT da Bahia não é egresso do movimento sindical das décadas de 1980 e 1990, como uma parcela extremamente expressiva do partido, e deu um fôlego para essa nova geração. Quando Wagner deixou de ser candidato ao governo e obrigou a renovação com Jerônimo, coube a Éden, Adolpho Loyola e Lucas Reis, os “menudos” do ex-governador coordenarem a campanha ligeiramente atabalhoada de Jerônimo.
Por certo, houve bate-cabeças e setores do entorno do núcleo mais antigo do PT torceu o nariz para essa renovação. Tanto que a campanha ganhou um prumo diferente já em agosto, quando a juventude e a experiência política passaram a ter um diálogo mais efetivo. Passada a eleição, Jerônimo manteve a empolgação por esse grupo, acrescido de Diogo Medrado, outro que passou a ter alta estima junto ao futuro governador.
Na montagem do secretariado vai haver uma espécie de “prova de fogo” sobre o processo de renovação dos quadros políticos. Há, nos bastidores, uma expectativa grande para que a chegada de Jerônimo possibilite a ascensão de figuras que estiveram ao longo dos últimos anos atuando na articulação política, mas fora dos holofotes, bem como o surgimento de novas apostas para o futuro do PT na Bahia.
Sem incorrer em etarismo, essa renovação vai passar também por nomes mais jovens, que possam permitir que haja fôlego para manter competitividade em 2026, mas também nas eleições de médio e longo prazo. No plano federal, a dependência de Luiz Inácio Lula da Silva ficou explícita nos pleitos de 2018 e 2022 e aprender com essa experiência pode ser decisivo para definir as estratégias desse grupo para permanecer como hegemônico na Bahia. Jerônimo devem então incluir esse desafio na lista.