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O Itamaraty impôs segredo, até 2035, às informações trocadas pelos postos diplomáticos a respeito da controversa visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, à fronteira do Brasil com a Venezuela.

Pompeo foi ciceroneado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante viagem a Boa Vista em 18 de setembro. Ele foi a Roraima em meio à campanha do presidente Donald Trump à reeleição.

O ministério classificou como secretos os telegramas diplomáticos que registram a preparação e os motivos da viagem, assim como os documentos produzidos posteriormente, com as impressões sobre a visita. Procurado, o Itamaraty não respondeu por que razão classificou os documentos como secretos.

No Brasil, Pompeo fez duro discurso contra o regime do ditador Nicolás Maduro, a quem se referiu como narcotraficante. Ernesto seguiu a mesma linha e chamou o governo da Venezuela de narcorregime.

Dois telegramas diplomáticos que antecederam a visita de Pompeo, trocados entre a embaixada brasileira nos Estados Unidos e a sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, foram classificados como secretos, segundo resposta do Itamaraty a um pedido da reportagem via LAI (Lei de Acesso à Informação).

Um é de 9 de setembro, nove dias antes da viagem. O sigilo só vai expirar em 9 de setembro de 2035. O outro é do dia 15, três dias antes. Para este, o segredo imposto vai até 2025. Os postos diplomáticos brasileiros trocaram informações oficiais também após a visita do secretário de Trump. Um telegrama foi emitido no dia 24 de setembro, e outro, em 9 de outubro. Os dois permanecerão em segredo até 2035.

A LAI prevê que um documento pode ser classificado como ultrassecreto, secreto e reservado, caso existam riscos à "segurança do Estado ou da sociedade". O tempo máximo da classificação ultrassecreta é de 25 anos; secreta, 15 anos; e reservada, 5 anos. O Itamaraty usou o tempo máximo de sigilo, conforme a classificação que elegeu, para três dos quatro telegramas diplomáticos trocados.

O ministério forneceu à reportagem outros quatro telegramas referentes à visita do secretário de Trump. No entanto, eles não trazem nada de relevante e novo sobre os preparativos da viagem, os motivos do encontro, as impressões das duas autoridades, os assuntos tratados de forma reservada entre eles ou as expectativas -políticas e militares- em relação à Venezuela de Maduro.

Os telegramas entregues por meio da LAI apenas reproduzem notas oficiais emitidas pelo Departamento de Estado americano a respeito da visita de Pompeo a Brasil, Colômbia, Guiana e Suriname. Os três primeiros países fazem fronteira com a Venezuela. Os telegramas se limitaram a traduzir notas oficiais.

Bernardo Velloso, encarregado de negócios na embaixada em Washington, assina dois deles. Nestor Foster, confirmado embaixador pelo Senado em 22 de setembro, assina os outros dois, ainda como encarregado. As informações foram fornecidas pelo Departamento de EUA do Itamaraty.

Até hoje, o ministério não detalhou as circunstâncias da visita, em especial a maneira como o encontro na região de fronteira foi acertado, a menos de 50 dias das eleições nos Estados Unidos.

A missão foi duramente criticada por especialistas em relações externas, por ex-chanceleres e no meio político. A posição mais contundente partiu do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Segundo Maia, a visita de Pompeo "não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa".

Seis ex-chanceleres -dos governos Collor, Itamar, FHC, Lula e Temer- apoiaram o presidente da Câmara.

"Condenamos a utilização espúria do solo nacional por um país estrangeiro como plataforma de provocação e hostilização a uma nação vizinha", afirmaram os ex-chanceleres em nota.

Ernesto rebateu Maia. Segundo o chanceler brasileiro, a posição do presidente da Câmara se baseia em "informações insuficientes e em interpretações equivocadas".

"Muito me orgulho de estar contribuindo, com o secretário de Estado, Mike Pompeo, sob a liderança dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, para construir uma parceria profícua e profunda entre Brasil e EUA, as duas maiores democracias das Américas", afirmou em nota.

"Só quem teme essa parceria é quem teme a democracia", disse Ernesto.

Enquanto a visita dos representantes dos governos Trump e Bolsonaro ocorria em Roraima, o Brasil fazia uma simulação de guerra sem precedentes na Amazônia. O palco do suposto conflito entre o "país vermelho" e o "país azul", que envolveu 3.600 militares do Exército e armamento pesado (como lançadores de foguetes com alcance de 80 quilômetros), deu-se a 840 quilômetros de Boa Vista.

Foi a primeira vez que o Exército fez uma simulação dessa proporção. Somente com combustível, horas de voo, transporte e munição, a força gastou R$ 8,9 milhões.

Fonte:Bahia Notícias
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