Com mais de um ano de atraso nas previsões iniciais, o Museu Nacional pretende começar a reconstrução de seu palácio só no primeiro semestre do ano que vem. Mesmo assim, ainda promete cumprir o previsto e reabrir parte das portas ao público em 2022, quando o Brasil completará os 200 anos de sua independência.
A ideia era ter começado a obra da fachada e dos telhados do edifício no Rio de Janeiro --onde morou a família imperial e funcionou a primeira instituição científica brasileira-- em 2019, um ano depois de um dos incêndios mais marcantes do país. Mas atrasos no projeto e a pandemia do novo coronavírus fizeram os planos serem adiados.
"Não é um prédio comum", disse Denise Carvalho, reitora da UFRJ, universidade federal responsável pelo museu. "A empresa contratada encontrou várias dificuldades para que o projeto seja de excelente nível. No meio do caminho, por exemplo, achou esculturas integradas ao prédio que precisam ser consideradas", afirmou em entrevista coletiva virtual nesta quinta (17).
Esse projeto agora está pronto e falta licitar a reforma, o que ela prevê fazer em três ou quatro meses. "Licitar é rápido, mas concluir a obra não. Estamos trabalhando para que o primeiro bloco [que corresponde a 50% da área construída] e o Jardim das Princesas fiquem prontos em 2022. Aí podemos fazer o evento do Bicentenário", declarou.
Ainda falta também, entre outras coisas, um projeto arquitetônico do interior do palácio, que será criado por uma empresa contratada através de uma licitação internacional coordenada pela Unesco, em fase final. O prazo para ter todo o edifício reaberto é previsto para 2025 ou 2026.
Enquanto isso, a universidade pretende inaugurar no ano que vem um novo campus, que está sendo concluído para abrigar a parte acadêmica do museu, num terreno cedido pelo governo federal próximo ao estádio do Maracanã (zona norte do Rio). É lá que vão ficar a administração, as salas de aula e os laboratórios dos pesquisadores que perderam seus espaços de trabalho com a tragédia.
"Nós precisamos devolver a autoestima para o povo carioca e brasileiro, e o Museu Nacional é uma das formas de fazer isso. É um privilégio para o nosso país ter um monumento do porte do museu", afirmou o diretor Alexander Kellner, que costuma repetir que, mesmo com o incêndio, a instituição continua produzindo conhecimento.
Nos últimos dois anos, o museu montou uma equipe de pesquisadores para escavar manualmente os escombros e resgatar o acervo, que passou pelo que chamam de "três tragédias": o fogo, a água (dos bombeiros e da chuva) e o desabamento do prédio.
Esse trabalho de retirada e armazenamento das peças já foi praticamente concluído, mas também foi atrasado pela pandemia porque houve casos de Covid inclusive dentro da equipe. Ainda é preciso investir na conclusão do inventário e na restauração desses objetos, que não começou.
Por enquanto é impossível fazer um balanço em número de peças resgatadas porque algumas, por exemplo, estão fragmentadas. No início do ano, o museu estimava que mais da metade das coleções -n as áreas de antropologia, botânica, entomologia (insetos), geologia e paleontologia, invertebrados e vertebrados-- havia tido materiais relevantes recuperados.
A instituição ainda não tem a verba necessária para a reconstrução do museu e do acervo. Até agora, foram captados ou assegurados 65% dos R$ 380 milhões previstos no total. O orçamento inclui as obras do palácio, a reforma da biblioteca central, a construção do novo campus e todo o trabalho de museografia.
No último ano, porém, conseguiu a ajuda de instituições como o BNDES (que ampliou seus repasses de R$ 22 milhões para R$ 50 milhões), o Instituto Cultural Vale e o Bradesco, com mais R$ 50 milhões cada um. O dinheiro também vem do Ministério da Educação, de emendas parlamentares de deputados federais do RJ e de doações de países, pessoas e empresas.
Kellner fez um apelo para que os brasileiros ajudem a recuperar o acervo através da Associação Amigos do Museu Nacional, organização da sociedade civil que recebe e administra doações de pessoas físicas ou jurídicas pelo site.
Em julho, a Polícia Federal concluiu as investigações sobre as causas do fogo e descartou ação criminosa ou omissão por parte dos gestores, já que a direção já havia definido uma verba para a reforma do prédio. A perícia confirmou que o foco das chamas foi um ar-condicionado no auditório do primeiro andar.