O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), tomou posse nesta sexta-feira (1º) para o segundo mandato, com um discurso que pôs o combate às desigualdades sociais como prioridade e direcionou críticas, sem citar nomes, ao negacionismo da ciência no enfrentamento da pandemia de Covid-19.
– As vozes que ecoaram das urnas são claras; moderação, equilíbrio, respeito à ciência, humildade e trabalho eficiente (…) Sem falsa modéstia, creio que nosso projeto foi e será capaz de traduzir as vozes e o sentimento da população – afirmou.
Da tribuna da Câmara Municipal, onde também foram empossados os novos vice-prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e vereadores, Covas abriu o pronunciamento com a leitura da tradução das primeiras frases do discurso de vitória da vice-presidente eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris. A mensagem de Kamala conclama à luta ativa em defesa da democracia, sem tomar sua sobrevivência como garantida.
O prefeito de São Paulo retratou a capital paulista como uma cidade “rica, diversa, mas profundamente injusta”, e discorreu sobre como a crise social e econômica provocada pelo novo coronavírus só fez acentuar as desigualdades entre ricos e pobres.
Covas exaltou a maioria dos cidadãos que, na sua visão, teve comportamento exemplar no combate à pandemia, sem deixar de mencionar “uma minoria que coloca seus interesses e desejos em primeiro plano”.
Sem prometer que a medida será instituída, o tucano afirmou que a prefeitura vai estudar se há espaço orçamentário em 2021 para estender a concessão de uma renda básica emergencial a 1,2 milhão de pessoas em situação de vulnerabilidade. Ele não falou em números, citando apenas um “valor mínimo” para eventuais beneficiários.
– Tenho clara noção da responsabilidade sobre meus ombros. Meu coração está leve e meu corpo está pronto para o que der e vier – disse.
O gestor não se furtou a comentar o câncer para o qual ainda se submete a tratamento, reafirmando que tem “a saúde e a força necessárias para continuar à frente da cidade”.
Além disso, Covas atribuiu a maior crise sanitária do século a uma crise de natureza ambiental, prometendo foco na preservação do meio ambiente.
Outro destaque foi o reconhecimento de que as medidas da prefeitura na educação em 2020 para mitigar danos da interrupção das aulas presenciais não foram suficientes. O mandatário colocou como “missão” garantir a retomada segura das aulas presenciais, “sob pena de comprometer irremediavelmente o futuro de milhares de jovens”.
O gesto de iniciar seu discurso com palavras da primeira vice-presidente mulher e negra eleita nos EUA remete ao compromisso do prefeito de adotar critérios de diversidade de gênero e racial na composição do secretariado do mandato 2021-2024.
Covas relatou que um terço dos nomes já definidos é de mulheres, citando a escolha da ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy como secretária de Relações Internacionais. O compromisso de nomear pessoas negras para cargos de primeiro escalão, contudo, não recebeu destaque na fala.
*Estadão