A mulher do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, a advogada Rosangela Moro, apresentou nesta quarta (3) uma reclamação ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, pedindo que seja revogada a liminar do ministro Ricardo Lewandowski que deu à defesa de Lula acesso à troca de mensagens entre o ex-juiz da Lava Jato e procuradores da força-tarefa de Curitiba.
As conversas foram obtidas por hackers presos na Operação Spoofing e revelam troca de mensagens entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol sobre temas que vão desde “sugestão de fonte” contra o filho de Lula a pedidos de movimentação em processos. Os advogados do ex-presidente pretendem usar as mensagens para reforçar as acusações de que Moro agiu com parcialidade e encarou o petista como “inimigo”, ao condená-lo a nove anos e meio de prisão no caso do tríplex do Guarujá.
Rosangela Moro, que acionou o Supremo representando o marido, alega que a decisão de Lewandowski foi um drible da defesa de Lula em Fachin. No entendimento da advogada, caberia ao ministro, que é relator da Lava Jato no Supremo, decidir sobre o caso, e não o colega de Corte.
Além disso, Rosangela afirma que “não há prova da autenticidade das mensagens” e que elas poderiam “ter sido adulteradas antes de sua apreensão pela Polícia Federal” – posição mantida por Moro desde o início da divulgação das conversas. No entanto, um dos documentos obtidos pela defesa de Lula trata-se de uma perícia de 50 páginas feita nas mensagens atribuídas a Moro e ao ex-coordenador da força-tarefa no Paraná, Deltan Dallagnol.
– As perícias ali realizadas apenas confirmam que as mensagens foram objeto de busca e apreensão nos computadores dos hackers, mas não há demonstração de que não foram corrompidas após terem sido roubadas dos celulares dos Procuradores da República – alega a advogada.
Rosangela também afirma que não vislumbra ilegalidade nas conversas entre Moro e Dallagnol que se tornaram públicas. Ela cita uma delas, datada do dia 23 de fevereiro de 2016, às 13h47, na qual o então juiz da Lava Jato questionou o procurador sobre a ação penal contra Lula: “Vcs entendem que já tem uma denúncia sólida o suficiente?”. (A grafia foi mantida como no original.)
“Sim”, respondeu Dallagnol. “Na parte do crime antecedente, colocaremos que o esquema Petrobras era um esquema partidário de compra de apoio parlamentar, como no Mensalão, mas mediante indicações políticas usadas para arrecadar propina para enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas”, disse o procurador.
– Ora, o juiz perguntar ao procurador se ele tem elementos para denunciar é meramente um cuidado retórico para advertir ao Ministério Público de que não deve oferecer acusações levianas; isso para proteger o acusado e não para prejudicá-lo – anotou Rosângela Moro.
Segundo a advogada e mulher do ex-juiz da Lava Jato, as conversas divulgadas não demonstrariam que Lula “não é culpado pelos crimes pelos quais foi condenado” nem que a Lava Jato ou Moro agiram com “motivações políticas” ou “animosidade pessoal” contra Lula.
Formalmente extinta na última segunda (1º), a força-tarefa da Lava Jato também recorreu ao Supremo contra a liberação das conversas entre Moro e Dallagnol. Em documento enviado ao gabinete do ministro, os procuradores pedem que todo o acervo da Operação Spoofing seja declarado como prova “ilícita e imprestável”.
– Tal material pode ter sido objeto de múltiplas adulterações, é imprestável e constitui um nada jurídico, de modo que nenhuma perícia após a sua apreensão terá o condão de transformar a sua natureza como que por um passe de mágica – diz um trecho do pedido.
*Estadão